sábado, 3 de dezembro de 2011

LÂMINA

Por isso aproveito tudo
Sorver até explodir.
(a janela está fechada agora porque concentro-me a escrever)
E o ruim disso tudo é que nem dez vidas seriam suficientes
Eu, a superfície limítrofe entre a apatia da sabedoria
E a efervescência da insanidade, sem adjetivos.
Busquei sempre a incompreensão do mundo
Trago comigo aquilo que ninguém, jamais, soube
Construo-me diariamente entre diálogos vãos
E o silêncio
Observo apenas
Meus castelos são fluídicos, imateriais segredos
Percebo tudo diferente
A forma me é desprezível
Interessa-me a essência das coisas
O etéreo que se encobre e desaparece,
No mesmo segundo,
Pelo mero descaso do olhar.
Fui sempre assim e apenas ontem me dei conta
Como pude, então, sobreviver até hoje
Inconsciente
As pessoas apenas pingam sobre mim
Como garoa em mar calmo, indiferentes
Não que eu seja insensível. De modo algum.
As dores do mundo muito me abalam
Quase me abatem, quase desisto.
É que as pessoas jamais entenderiam
Porque não vêem com meus olhos,
nem ouvem com meus ouvidos
E prefiro me deleitar sozinha a ter de destruir
uma verdade alheia
às vezes me arrependo das palavras ditas,
que ecoam sem esforços pelos ouvidos
Nunca dos sorrisos, poucos podem compreendê-los
Por isso, gratuitamente os distribuo.
Mas ainda há tanto a fazer
A construir, a conquistar...
Que muitos já se esquecem de respirar
E eu, aqui, insistindo em só viver.