Um vento calmo e frio adentra a sala pela janela entreaberta. Aqui dentro a atmosfera é sutil e etérea, com boa dose de melancolia. A luz está apagada, mas alguns raios do dia cinzento que está lá fora, conseguem entrar. Aqui, nesse rincão isolado de algum lugar do mundo, habito sozinha, há tempos. Das pessoas lembro-me apenas de alguns vultos, de alguns atos. Fugiram as fisionomias e as vozes. Às vezes uma recordação me visita, e consigo lembrar das tantas vezes que me fizeram chorar, mas quase nunca me lembro de quando fizeram-me sorrir. Sinto que a realidade já está muito longe, perdi meu elo de comunicação com o mundo, e já não sei distinguir lembrança e delírio. Já ouvi sons, mas temo que tenham vindo de dentro de mim. O passado e o futuro me assustam. Prefiro manter-me no presente que conheço, assim, nesta outra dimensão. Os dias passam lentos, se arrastam aqui neste lugar, onde nem sei como cheguei, mas me são indiferentes. Vivi cercada de pessoas, mas o coração sempre sozinho. E agora, tenho medo de chegar na janela...
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
PORTAL
Quartos guardam muito mais do que camas e armários
Janelas cerram a vida no mundo alheio
No vão da porta se escondem desejos
E lágrimas dormem nos travesseiros
O preto só é preto porque alguém assim o disse
Quem terá sido capaz de inventar a escuridão?
Os livros na estante não são só livros
Suas páginas às vezes são espelhos
Houve um tempo em que engolia tais palavras
E quantos segredos eu vejo pendurados
No testemunho do olhar destes quadros.
Um sonho frágil esvaído ao chão
Cinza de cigarro, poeira, farelo de pão
No teto, teia de sons que teceste com tuas mãos
Mas as cortinas já se fecharam
O espetáculo, há muito, está encerrado
E o relógio na minha frenteDerrama horas que escorrem pela parede.
Janelas cerram a vida no mundo alheio
No vão da porta se escondem desejos
E lágrimas dormem nos travesseiros
O preto só é preto porque alguém assim o disse
Quem terá sido capaz de inventar a escuridão?
Os livros na estante não são só livros
Suas páginas às vezes são espelhos
Houve um tempo em que engolia tais palavras
E quantos segredos eu vejo pendurados
No testemunho do olhar destes quadros.
Um sonho frágil esvaído ao chão
Cinza de cigarro, poeira, farelo de pão
No teto, teia de sons que teceste com tuas mãos
Mas as cortinas já se fecharam
O espetáculo, há muito, está encerrado
E o relógio na minha frenteDerrama horas que escorrem pela parede.
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Receita de Poesia
Junte uma dose de melodrama
A uma dúzia de palavras bonitas
Modele um alguém que se engana
Em toda experiência vivida
Acrescente, a gosto, a rima
Em forno baixo, assina!
Na cobertura, por cima
Despeje todo o tema:
Está pronto o poema.
Ps.: Esqueça a moderação
E sirva porções generosas
Poesia nunca é demais...
Se não fizer bem,
Mal não faz!
sexta-feira, 22 de junho de 2007
Lapso
O sabor do vento salgou teus olhos,
último fio de luz do horizonte.
A superfície imaculada de tua imagem
ainda insiste em manter
uma chaga entreaberta.
As lembranças, folhas outonais,
pairam na mesma brisa
em que partiste...
As janelas foram douradas
com um novo rosa de aurora.
Na boca de areia, a língua rachada.
Tua voz já foi seiva
de tudo o que era vivo.
Hoje, teu silêncio é ópio
para as margaridas.
O sabor do vento salgou teus olhos,
último fio de luz do horizonte.
A superfície imaculada de tua imagem
ainda insiste em manter
uma chaga entreaberta.
As lembranças, folhas outonais,
pairam na mesma brisa
em que partiste...
As janelas foram douradas
com um novo rosa de aurora.
Na boca de areia, a língua rachada.
Tua voz já foi seiva
de tudo o que era vivo.
Hoje, teu silêncio é ópio
para as margaridas.
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